Metástase_amigdalina_(27-_)
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Caso Clínico

Metástase amigdalina: Um caso raro

Tonsillar Metastasis: Rare case report

André Carção,

Pedro Carneiro Sousa,

Delfim Duarte,

Marta Neves

Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Pedro Hispano,

Unidade Local de Saúde de Matosinhos, E.P.E.

André Carção – andre.carcao92@gmail.com

Fecha de envío: 20/10/2019

Fecha de aceptación: 25/12/2020

ISSN:
2340-3438

Edita:
Sociedad Gallega de Otorrinolaringología

Periodicidad:
continuada.

Web:
www.sgorl.org/ACTA

Correo electrónico:
actaorlgallega@gmail.com

Resumo

Os tumores das amígdalas palatinas são raros e normalmente primários, sendo que a maioria tem origem epitelial ou linfoproliferativa (95%). As metástases amigdalinas são responsáveis por apenas 0,8% dos tumores amigdalinos e até ao momento, existe registo de aproximadamente 100 casos reportados . Descreve-se o caso de uma doente de 68 anos referenciada ao Serviço de Urgência de Otorrinolaringologia por lesão ulcerada na amígdala palatina esquerda. A biópsia da lesão revelou metástase de carcinoma da mama. A neoplasia primária tinha sido diagnosticada 3 anos antes. A metastização amigdalina é rara e normalmente surge numa fase avançada da doença primária, associando-se a um prognóstico reservado.

Palabras clave

Metástase amigdalina, carcinoma mama, mau prognóstico

Abstract

Palatine tonsil tumors are rare and usually primary, and most of them have epithelial or lymphoproliferative origin (95%). Tonsillar metastasis account for only 0.8% of tonsil tumors and there are approximately 100 reported cases so far. We report the case of a 68-year-old woman referred to the Otorhinolaryngology Department for ulcerated lesion in the left palatin tonsil. The lesion biopsy revealed metastasis of breast cancer. The primary neoplasm had been diagnosed 3 years earlier. Tonsillar metastasis are rare and usually occur at an advanced stage of primary disease and they are associated with a poor prognosis.

Keywords

Tonsillar metastasis, breast cancer, poor prognosis

Introducão

Os tumores das amígdalas palatinas são raros e a maioria destes são neoplasias primárias 1. Neoplasias de origem epitelial e linfoproliferativa são responsáveis por cerca de 95% do total, sendo que nos restantes 5% das neoplasias primárias amigdalinas incluem-se carcinoma adenoide cístico, carcinoma mucoepidermóide e adenocarcinoma 2. Raramente, a amígdala palatina pode ser local de metastização, estimando-se que estas lesões secundárias correspondem apenas a 0,8% do total de tumores amigdalinos3. A metastização surge numa fase avançada da doença neoplásica, independentemente do tipo de lesão primária e a sobrevida média após este diagnóstico é de 9 meses4. Para além do prognóstico reservado, as lesões metastáticas da amígdala apresentam risco de obstrução aguda e hemorragia na via aérea5. Existem apenas cerca de 100 casos de metastização amigdalina reportados sendo as neoplasias mais frequentemente associadas o melanoma, carcinoma pulmonar, esofágico, células renais e da mama6.

Caso Clínico

Doente de 68 anos, sexo feminino, referenciada ao serviço de urgência de otorrinolaringologia por odinofagia e dor cervical com 1 mês de evolução. Como antecedentes apresentava carcinoma da mama esquerda com marcador ck7 positivo e negativo para receptores de estrogénio e progesterona, sem sobreexpressão do receptor HER2. A neoplasia tinha sido diagnosticada há 3 anos, submetida a tumorectomia e quimioterapia adjuvante e a doente apresentava-se assintomática desde então.

Ao exame objectivo apresentava lesão ulcerovegetante na amígdala palatina esquerda com cerca de 4cm (Figura 1). À palpação cervical, detectou-se adenopatia esquerda com cerca de 3cm na região IIb, indolor, dura e fixa aos planos adjacentes.

Foi efectuada biopsia da lesão e o exame anatomopatológico revelou tratar-se de metástase de carcinoma da mama com características compatíveis com a neoplasia primária (Figura 2 e 3).

Simultaneamente ao diagnóstico de metastização amigdalina, por queixas gastrointestinais, foi realizada endoscopia digestiva alta e baixa onde foram detectadas metástases a nível do cólon e estômago.

Tendo em conta a disseminação da neoplasia primária com aparecimento de múltiplas metástases, a doente não foi proposta para intervenção cirúrgica. Foi então apresentado o caso em consulta de grupo oncológico onde foi estabelecido ciclo de quimioterapia paliativa com carboplatina e gemcitabina. Neste momento, 7 meses após o diagnóstico, a doente apresenta progressão da doença sistémica, apesar da metástase amigdalina manter características sobreponíveis.

Discussão

Apesar da grande maioria dos tumores da amígdala serem lesões primárias, 0,8% são lesões metastáticas, sendo a escassez de casos descritos na literatura explicada por este número3. As metástases amigdalinas são mais frequentemente unilaterais, e associam-se a doença disseminada, sendo que todos os casos reportados de metástases por carcinoma da mama relacionam-se com doença multifocal disseminada7,8,9. A metastização amigdalina associa-se, também, a um mau prognóstico independentemente do tumor primário ou tipo de tratamento instituído, sendo a sobrevida média de 9 meses após diagnóstico4. O mau prognóstico associado é realçado pelo caso apresentado, tendo em conta a progressão da doença sistémica, com o aparecimento de metastização pulmonar.

As vias de metastização para amígdala palatina podem ser múltiplas, das quais se destacam a via hematogénea, via linfática, via plexo paravertebral, invasão directa a partir de adenopatias locorregionais e implantação directa de células neoplásicas por regurgitação/vómito em casos de neoplasias gastrointestinais10,11. Neste caso, a via de metastização não foi esclarecida. No entanto, a hipótese mais provável é a via hematogénea, uma vez que esta é responsável pela maioria dos casos de metástases amigdalinas 12.

Em conclusão, quando detectado um tumor amigdalino, apesar de rara, a metastização distante de um tumor primário deve ser considerada.

Declaração de conflito de intereses

Sem conflito de interesses.

Bibliografía:

1 - Olaleye O, Moorthy R, Lyne O, Black M, et al. A 20-year retrospective study of tonsil cancer incidence and survival trends in South East England: 1987–2006. Clin. Otolaryngol. 2011; 36; 325–335

2 - Irani S. Metastasis to the oral soft tissues: A review of 412 cases. J Int Soc Prevent Communit Dent. 2016;6:393–401

3 - Crawford B, Callihan M, Corio R, Hyams V, et al. Symposium on malignant disease of the oral cavity and related structures. Otolaryngol. Clin. North. Am. 1979; 12; 29–43.

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5 - Yamaguchi E, Uchida M, Makino Y, Tachibana M, et al. Tonsillar metastasis of gastric cancer. Clin. J. Gastroenterol. 2010; 3; 289–295

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12 - Hong W., Wang X., Yu X.M., Chen B., Ding G.J., Zhang Y.P. Palatine tonsillar metastasis of lung cancer during chemotherapy. Int. J. Clin. Exp. Pathol. 2012;5:468–471


Figuras

Figure 1. Lesão ulcerada na amígdala palatina esquerda.


Figure 2. Ninhos de células malignas com atipia nuclear com origem em carcinoma da mama


Figure 3. Células malignas com marcação ck7 positiva compatível com carcinoma da mama

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